Fábio Bota vive época de sonho in carteia
Integrou a selecção nacional nos escalões jovens entre 1994 a 1997 e agora, aos 27 anos, Fábio Bota foi Campeão Nacional da 2ª Divisão de Pólo Aquático, foi o melhor marcador do seu campeonato e foi chamado para representar a Selecção Nacional sénior. Fique a conhecer melhor este campeão e as suas ambições. (Entrevista na íntegra na edição impressa do Jornal Carteia n.º 392, do dia 03 de Junho de 2008)
Jornal Carteia: Recebeu recentemente o prémio de melhor marcador do campeonato. Esperava ganhar, com 34 golos de diferença sobre o segundo classificado?
Fábio Bota: O facto de ter sido o melhor marcador foi o trabalho de toda a equipa. Felizmente para mim era eu que teria que finalizar as jogadas. Se não fosse eu teria sido outro elemento do Louletano. O campeonato correu às mil maravilhas à equipa, muito por causa do nosso trabalho e empenho ao longo da época. Tornámos o Louletano, que era uma equipa banal da 2ª Divisão, que tentava lutar para a manutenção, numa equipa com ambições muito grandes e tendo, essencialmente, os jogadores da terra. A equipa era praticamente a mesma, só mudou o treinador.
JC: A vinda de Fernando Leite foi, portanto, muito importante nesse sucesso?!
FB: Foi essencial. Aliás, ele é o principal obreiro deste feito que nós conseguimos, embora os jogadores é que tenham dado a cara e o corpo ao manifesto.
JC: Recebeu essa distinção no III Torneio Internacional de Pólo Aquático. O que representa ter estas selecções em Loulé?
FB: O Torneio de Pólo Aquático de Loulé era organizado pela Federação, mas houve uns anos atribulados, em que se deixou de fazer o torneio. Depois o Louletano pegou na organização, comigo e com o meu companheiro de direcção Miguel Guerreiro, de uma forma gradual, porque o Louletano não tinha tanta força como a Federação. Tentámos fazer um projecto a longo prazo, primeiro com selecções regionais, no segundo ano já com uma equipa de Madrid, de topo europeu, e no terceiro ano já conseguimos elevar o nome do pólo aquático do Louletano, com equipas de muito bom nome. Para além de Portugal, que é sempre um prazer ter cá, veio a Suíça, Israel e a Finlândia, isto além da selecção do Algarve, que é um orgulho para nós ter participado.
JC: Neste torneio foi chamado pela primeira vez para a Selecção Nacional sénior. O que significa isso para si?
FB: Foi uma grande surpresa, mas também um grande orgulho ter sido chamado pela primeira vez à selecção de topo nacional. É um motivo para continuar a acreditar que, com esforço, tudo é possível. Este ano abdiquei de muita coisa para me dedicar quase a 100% ao pólo aquático, do que não estou nada arrependido, o que me garantiu essa presença na selecção, que foi muito boa para mim.
JC: E como foi jogar contra os seus habituais companheiros, que estavam a jogar pela selecção do Algarve?
FB: Esse jogo foi muito complicado, porque eu conheço-os há muitos anos. Também temos tido uma relação muito forte com a equipa do Portinado. Aliás, queremos agradecer por nos terem ajudado nesta época, em que tivemos jogos amigáveis todas as semanas. Mas foi complicado e engraçado ao mesmo tempo, porque sabemos quase tudo o que cada um faz.Acredito seriamente que, depois de termos conseguido este feito, a Câmara Municipal vai apostar na piscina de 50m.
JC: Durante a época faziam treinos bi-diários. Como foi conciliar isso com a sua actividade profissional?
FB: Foi muito complicado. Saíamos do treino à meia-noite e às sete da manhã já estávamos dentro de água outra vez. Mas só fizemos isso porque acreditámos que era possível, vimos os resultados e tínhamos a sensação de que tudo era possível se continuássemos a trabalhar. A nossa vontade de ganhar foi mais forte que tudo o resto. Toda a gente nos perguntava como é que era possível e se éramos malucos, mas era a nosso ambição, nós tínhamos que ganhar e era aquele ano que tinha que ser. Realmente o Fernando conseguiu dar a volta à equipa e tornar-nos semi-profissionais, porque ninguém recebe nada, era um orgulho enorme estar lá e para mim, como faço parte da direcção, era um orgulho ainda maior.
JC: Como se sente ao ser de Loulé e ter que ir treinar e jogar em Faro?
FB: O problema é que nós em Loulé poderíamos ter todas as condições e não as temos e o próximo ano vai ser mais um ano complicado por isso. Temos três equipas a treinar, das 21h às 23h, porque antes tem que treinar a natação, o que é compreensível. São quase 100 pessoas a treinar numa piscina de 25m, o que é muito complicado e ainda por cima a piscina tem pé num dos lados, o que impossibilita qualquer tipo de jogo. Ir para Faro foi a única hipótese que foi criada e temos que agradecer ao Dr. Apolinário por nos ter cedido a piscina de Faro uma vez por semana para treinar, que também foi a nossa “casa” esta época. Mas é pena, porque Loulé tem todas as possibilidades de criar essas condições. Já se falou muitas vezes que a piscina exterior ia ser coberta e aquecida e nós estamos à espera. Se não tivermos essas condições dificilmente conseguiremos fazer mais qualquer coisa no pólo aquático e até na natação.
JC: Com a construção das piscinas de Quarteira espera minorar esse problema?
FB: Sim, à partida será essa a nossa “casa” em termos de jogos na próxima época. Em termos de treinos é muito complicado, porque praticamente todos os atletas são de Loulé e ter que se deslocar todos os dias para Quarteira é complicado, mas à partida, também vamos pedir para treinar lá uma vez por semana. Além disso, as pessoas e os clubes de Quarteira também vão querer usufruir das piscinas e com todo o direito. Mas eu acredito seriamente que, depois de termos conseguido este feito, a Câmara Municipal de Loulé vai apostar na piscina de 50m, porque não é só pelo pólo nem pela natação, mas porque criávamos uma infra-estrutura que não existe a sul do Tejo, o que facilitaria em termos de organização de grandes eventos. Já temos aqui o Meeting, que é uma prova de topo, mas poderíamos ter outras coisas, como Campeonatos da Europa e do Mundo e pensamos que a Câmara, neste momento, estará aberta a estas questões.Lutar para manter parece-me um bocado pequeno para o clube que somos
JC: Como director do Louletano, como é que o clube vai fazer face ao aumento das despesas que a subida de divisão implica?
FB: Agora temos outras armas para mostrar, estamos no escalão máximo da modalidade e esperamos conseguir mais apoios por parte dos patrocinadores. Faz parte do nosso trabalho como directores procurar outros apoios. Mas, com tempo, trabalho e dedicação, tudo será possível. Até agora temos tido muita ajuda de empresários da região, que acreditam em nós. Mas o pólo aquático é uma modalidade muito gastadora, porque a grande maioria dos clubes está acima de Coimbra e esta época vamos jogar 6 vezes jogar acima do Porto. Isto implica um esforço muito grande também para os jogadores, muitos deixam de trabalhar ao fim-de-semana para poder jogar, o que para mim é um orgulho, porque vejo muito pouca gente do desporto com esta maneira de ser.
Patrícia Melão